Saymon Nascimento’s review published on Letterboxd:
I wrote a Facebook post in Portuguese about it, but, basically, it's a genre movie very proud of being a genre movie in a country where just a few people make genre movies, but there is nothing else in it beyond that pride. It's mediocre, to say the least, specially because it doesn't know how to film violence.
My post in Portuguese:
Certa vez um ex-colega de redação confessou aqui no Facebook que havia ajudado os irmãos a dar uma surra num bandido da vizinhança, que foi pego roubando. Eu contestei o seu recurso à violência - o ensaio de um linchamento? - e ele me bloqueou. Hoje eu vi O Animal Cordial, de Gabriela Amaral Almeida, que tem como ideia central justamente esse limite tênue entre o reaça pró-bancada da bala e o psicopata. Às vezes basta um pequeno gatilho, como um assalto, para descobrir.
Tendo perdido a sessão no Rio, já havia sido alertado de que o filme provavelmente receberia elogios por uma leitura política do seu banho de sangue - disparado após bandidos tentarem roubar um restaurante -, mas acho que isso dura, no máximo, cinco minutos na tela. O Animal Cordial me parece interessado mesmo em se afirmar como um filme de horror, do tipo não sobrenatural e com algum sadismo, um Takashi Miike tropical, porém mais tímido.
Essa justificativa da existência do filme me irrita, de alguma forma, porque meio que denuncia o amor pelo gênero apenas pelo fetiche, como se ganhar ir parar na prateleira de horror do Netflix fosse o objetivo final da empreitada toda.
Fico pensando em como reagiria diante do filme um espectador do Japão, onde a aproximação dos diretores do horror e de outros gêneros é algo natural e não algo que mereça destaque. Provavelmente daria de ombros, penso. No Brasil, onde a expressão por meio da gramática de gênero é tida como um caminho menor entre os cineastas (que raramente se arriscam por aí), O Animal Cordial acaba ganhando uma apreciação maior que a merecida.
Quando passa o período de ajustes do espectador - "este é um filme de horror brasileiro", mentalize - pouco sobra de substancial no todo, até porque dentro do caixa que o filme quer entrar, ele é um exemplar apenas medíocre, especialmente na encenação da violência, que não tem força pra sugerir nem coragem pra chocar.
Essa mediocridade vai se agravando à medida que o filme se aproxima do fim, uma tentativa talvez desesperada de criar uma imagem icônica, um resumo quase publicitário da ideia de gore. Só que até nesse momento, onde o plot já foi mesmo pro espaço, o filme se acovarda. Enfim, não gostei nada.